Pássaros urbanos, contagiados pela tarde ensolarada, exibiam-se em revoadas sobre a moderna construção de dois pavimentos. Alguns deles, regozijando do inicio de primavera, aventuravam-se pelos picos arquitetônicos da mansão, a procura de algum lugar aconchegante onde, pela fidelidade panorâmica, apreciar o que acontecia sob seus olhos. Em especial, para a perspectiva botânica que fazia ligação à área interna da propriedade, para o mudo exterior.
O porteiro Sebastião, em momento inadequado para o entretenimento, deslizava o dedo sobre a tela do celular, para cima, para baixo, para os lados; não dando importância aos reclames dos veículos pelo lado de fora das divisórias de alvenaria. Imperceptível ao trinar dos pardais; o mesmo fazia diante do indiferente som que ecoava pela área de lazer da família Cheredas.
– Sebastião! Tem alguém buzinando em frente ao portão!
Intervia Severino, o jardineiro que, se preocupando com o incomodo barulho, havia paralisado à adubagem das rosas amarelas, para socorrer o amigo que viajava pelo mundo virtual. Ou simplesmente, em consequência da idade, aos poucos iria perdendo a audição.
O portão se abria, podendo contar três automóveis se movimentarem pelas trilhas de pedras, que teria como endereço, a garagem para visitantes. Se ao acaso os recém-chegados não quisessem seguir a diante; poderiam estacionar em uma área ao lado dos canteiros floríferos, onde acomodaria com facilidade, uma média de quatro, a seis veículos.
De mãos a maçaneta, e a educação afinada, a governanta Iracema recebia os convidados. Um total de três pessoas, sendo dois homens e uma mulher.
– Sejam bem vindos! A patroa os aguarda na sala de visitas!
– Obrigado! – Retribuem os três convidados a uma só voz.
– Entrem! Sintam-se a vontade! Para você que ainda não me conhece, sou a Maria Francisca! Mas pode me chamar de Francisca! Vamos entrar! Meu marido já vai descer para juntar-se a nós!
Pronunciava-se a anfitriã. Uma cinquentona de aproximadamente um e setenta e cinco de altura, demostrando pelas vestimentas, equidade a sua classe social. Um par de olhos verdes, que a tudo observa, decodificando através deles, concordância aos sorrisos dos lábios.
– Obrigada! Muito prazer! Clarice!
Apresentava-se a visitante para anfitriã, sabendo de antemão, que seus dois acompanhantes já seriam frequentadores da mansão. Clarice com seus cinquenta e cinco anos de idade, e altura inferior a de Maria Francisca, apresentava-se dentro de um vestido azul claro, que ao tom, fazia concordância aos olhos azuis. Apesar da idade; ainda mantinha os originários cabelos loiros; sendo sua pele clara, pigmentada por indiferentes pontículos, partindo de uma cor marrom escuro, para o claro. Um pedaço de céu, a movimentar-se entre as pessoas; como estivesse a indicar o caminho da luz.
– Entrem! Vamos nos sentar, enquanto nossa amiga Iracema, prepara um suco para nós! Você nos faz esse favor querida?
– Só se for agora! – Responde a morena Iracema, que após ajeitar a passarela de crochê sobre a mesa, seguir em direção à cozinha.
– Obrigada Iracema! Vamos pessoal! Sintam-se a vontade!
– Obrigado!!! – Manifestavam-se amavelmente os três recém-chegados.
Clarice, de olhares investigativos, ao girar o pescoço para o lado esquerdo da sala, de onde se encontrava, avistava um vulto passear entre as poltronas, onde, a tudo indicava ser a sala para leitura, já que avistara centenas de livros redistribuídos por vários compartimentos, idênticos ao de uma biblioteca.
Após o acomodar-se dos convidados a mesa, e o suco servido; o anfitrião, ao tope da escada, após uma rápida visualização, descia lentamente os degraus de mármore, quando, ao toque de mãos, distribuía seus cumprimentos aos visitantes. Educado por natureza! Como sempre fazia! Brindava os visitantes com palavras carregadas de louvores. Principalmente a senhora Clarice; a novata em sua residência.
José Carlos, em seu corpo atlético, aparelhava em altura com a esposa Maria Francisca. Considerado um senhor extremamente católico pela cidade de Redenção, andava sempre bem vestido, dizendo-se pela cultura religiosa, nunca ter usado manequim, inadequado ao seu estilo de vida. Aparentava naquela tarde, um pouco ansioso, quando, por volta e meia, inseria os dedos entre as abotoaduras do terno preto de linho, indo dar-se de encontro ao pequeno crucifixo que se escondia entre a gola da camisa branca, e a gravata azul marinho. Esfregando-o com devoção; considerava-se pela manifestação, trancar-se por alguns segundos ao mudo superior. Segundos! Pela visão, ao mundo presente. No entanto! Ao sobrenatural de José Carlos. Uma eterna conversa com o onipresente.
– Minha esposa tem andado com umas ideias um tanto desafiadoras por esses dias; pensando que, se conseguíssemos coloca-la em pratica, haveria do pai se contentar com a boa ação; sabendo que diante do onisciente, somos todos filhos teu. E como partiu dela a ideia; ninguém melhor do que ela, para dar início a essa reunião.
– Obrigada meu amor! Não exatamente que a ideia tenha sido minha, sabendo que alguns religiosos, já vêm se esforçando por essa causa, mundo a fora! Sei que é uma tarefa difícil, mas, acredito que, se nos dedicarmos com afinco, hei de conseguirmos. Se ao acaso não conseguirmos unificar as igreja; ao menos possamos aproxima-las. Entendendo que, para se conseguir alcançar esse objetivo, tenhamos que nos envolver em uma verdadeira cruzada.
– Concordo com a senhora na dificuldade! Dizendo ser impossível que isso aconteça!
Comenta o pastor Irineu, demostrando-se incrédulo diante da ideia. O pastor Irineu, dizia-se respeitado por seus fieis, seguindo as riscas, o que ele pregava. Um senhor branco, nem muito alto, ou tão pouco, de baixa estatura. Seus olhos castanhos carregados de ambição, diziam por si; a dificuldade de adequar sua religião com as demais.
– Apesar das dificuldades; não nos custa tentar!
Anima-se o padre, que, por ser um assíduo frequentador da casa; em seus segredos, demostrava estar a par do que Maria Francisca tinha em mente. Padre Fabiano, mostrava-se a um senhor simpático de um setenta de altura, preto, que, assim como a cor de sua pele, definiam-se cabelos e olhos. Portador de uma áurea resplandecente; sabia como cativar as pessoas.
– Acho a ideia bem interessante! – Pronunciava-se Clarice, enquanto saboreava o suco de manga que a gentil governanta havia servido.
Após horas de conversa sem chegar a um consenso, demostrando-se nervosismo com o debate, que tudo apontava para o fracasso; sobressaíra ao entendimento de Maria Francisca que, por mais que dialogassem por décadas, dificilmente conseguiriam unificar as igrejas.
– Sem querer ofender os anfitriões! Não podemos fazer parte de uma religião onde as pessoas idolatram imagens de barro pendurados em paredes.
– Nós não idolatramos nada; a não ser o Cristo! As imagens são representações de quem muito contribuiu com o cristianismo! E penso que vocês evangélicos deveriam seguir pelo mesmo caminho!
– Viu querida! E muito difícil chegar a um entendimento. – Diz José Carlos.
– Temos que insistir meu amor!
– Confesso que seria de grande avanço, certas mudanças. Afinal! Seguimos a um mesmo Deus! A um mesmo Cristo! – Pronuncia-se Clarice.
– Vindo de uma pessoa que frequenta lugares, onde não se pode considerar religião; seja evidente em cogitar que tudo seja possível.
– Pastor Irineu! Tente se acalmar! A senhora Clarice é nossa convidada! Me sentirei ofendido se destrata-la!
– Obrigado pela defesa, senhor José Carlos! É normal que o pastor Irineu se exalte diante de um assunto tão relevante!
– Me desculpe dona Clarice! É que se tratando de religião, as coisas tendem a se exaltarem mesmo!
– Tudo bem pastor Irineu! Já pedindo desculpas pelo que vou dizer! Mas, penso que o senhor esteja longe do entendimento do que venha ser o espiritismo! O espiritismo pode sim, se considerar uma religião! Nós seguimos ao mesmo Cristo que vocês! O Cristo que nos aponta o caminho da virtuosidade!
– Minha religião não tem nenhuma afinidade com a sua. Pois, Alam Kardec, só retirou da bíblia a parte que lhe interessou.
– Assim como fez Martim Lutero?! – Rebate Clarice.
– Lutero só retirou o que é certo! Esse negócio das pessoas reencarnarem para concertar erros do passado, para mim não seja adequado! Opinião minha! – Dizia o pastor Irineu, tomado pelo nervosismo, se vendo perdido diante da calorosa discursão.
– Com todo o respeito pastor Irineu! Mas o senhor acha que pelo curto tempo de vida que temos aqui na terra, seja possível alcançar uma vida plena em sabedoria?! O senhor acha que meio a tantos conflitos espirituais, consiga um indivíduo sair purificado desse mundo?!
– Se aceitar Jesus, vai para o céu! Se não aceitar, vai queimar no inferno!
– Então o senhor quer dizer, que Deus seja impiedoso?!
– Não! Bom e justo!
– Assim pensando! Ele se deixaria levar contra o principio da vida! Foi ele quem criou os espíritos que o senhor quer jogar no inferno! Todos merecem uma nova chance!
– Creio que as pessoas em sua maior idade, tenham tempo suficiente para criar juízo. Se não endireitou na vida, dos trinta anos por diante; não endireita mais!
– E os que morrem antes dos trinta?! Eles iriam para o inferno também?!
– Dependendo das circunstâncias! Penso que sim!
– No catolicismo, alguns dos de menor idade, se são ruim, vão direto para o inferno. Se imaculados, direto para o céu. Crendo eu, que a maioria dos homens, ao meio termo da benignidade, vá para o purgatório.
– É padre Fabiano! Felizmente, nós espíritas não acreditamos nesse inferno que vocês insinuam! Há meu ver, seria o mesmo de Deus dividir o universo em duas partes, onde uma metade seria comandada por Deus, e a outra, por esse tal de diabo. Se Deus desencadeou o bem, para o principio e fim; por mais que demore a evolução de um ser errante, ele tenderá a converter-se para o que seja correto. Pois a presença do mal; persiste pela ausência do bem! E essa ausência tende a ser suprida por meio de outras reencarnações; até que o mal se extingue através do amor emanado da luz.
– Não tenho mais o que discutir! – Aquietava-se o pastor Irineu.
– Nem eu!
Reagia Padre Fabiano, o que menos havia debatido, tentando por tímidos olhares, comunicar-se com José Carlos e Maria Francisca, na tentativa de apontarem uma solução. O anfitrião, levando a mão ao crucifixo em volta do pescoço, esfregava-o por alguns segundos, até que, inspirado pela fé; relataria a seu ver, o significado da unificação das igrejas.
– Abraão teve Isaque e Ismael, em suas ramificações. Dizendo Deus, que através deles, seriam erguidas as grandes nações. E com as grandes nações, havia surgido à religião Judaica, onde se acreditava que a salvação se apresentaria por meio do povo Judeu. Entretanto, após o calvário, mostrou-se evidente pelas escrituras, que Jesus não morrera somente para os Judeus, e sim por todas as pessoas, independente de quaisquer religiões. Podendo confirmar pela escrita de (João 10:16), quando diz Jesus: (Eu tenho outras ovelhas que não são desse aprisco, sendo necessário que eu as conduza também; e elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor). Existem ovelhas em varias igrejas! Fora delas também! Mesmo assim não deixam de serem ovelhas de Jesus! Concluindo com a fala de João; que as ovelhas de Jesus estão em todas as religiões; independentes de quais ramificações tenham surgido.
***
Após algum tempo de reflexão entre os participantes da reunião, Clarice, em sua paz espiritual colocava-se de pé. Respirando suavemente, fazia pausa aos olhares, decidindo-se para qual caminho seguir. Guiada pelo sobrenatural, dirigia-se para a direção, onde em sua chegada, ter avistado um vulto; constatando pela visualização. Nada de representativo a suas confabulações. Apenas a imagem de um rapaz, em sua silenciosa leitura. Sem ser percebida pelo leitor, retornava para a mesa, dirigindo a palavra para a anfitriã.
– Dona Francisca! A senhora pode me informar onde estão os jovens que vieram para cá, hoje pela manhã? Talvez tenha alguém que queira carona de volta para casa!
– Já que a dona Clarice comentou! Assim também penso! Quem sabe os meus; queiram carona também! E minha filha?! Ainda não há vi, dês que cheguei! – Indaga o pastor Irineu.
– Sua filha Rute, estava até poucos minutos conversando com meu filho Paulo Marcos na varanda! Quem sabe apreciando a paisagem de nosso jardim!
– Conhecendo bem essa maravilhosa família; penso que, como os trouxeram, assim o farão com o retorno. Amanhã teremos um trabalho para realizar com outros jovens de fora da igreja. E os que aqui estão, são os melhores articuladores que tenho.
Comentava padre Fabiano, quando Maria Francisca, não se dando por vencida, pedia para que os convidados lhe acompanhasse até a área de lazer da mansão.
– Minha nossa senhora! O que é isso Maria Francisca! – Pergunta o esposo, levando as mãos ao rosto, dando com os dedos entreabertos diante dos olhos. Uma tentativa inútil de se esconder das pessoas que se divertiam na piscina.
– São os jovens dos quais te falei fazer parte de nossa reunião.
– Mas não me disse que eles participariam dessa reunião, assim, em plena nudez!
– São jovens meu amor! E eles não estão nus! Tire as mãos da frente dos olhos José Carlos! São esses os trajes de banhos que os jovens usam hoje em dia!
– Não vejo escândalo nessas vestimentas senhor José Carlos! – Diz o padre Fabiano.
– Que bom! Há quanto tempo não via minhas crianças se divertirem assim. – Comentava Clarice, em seu eterno sorriso.
– Não seria por menos! O seu pessoal aprecia bem esse tipo de encontro! – Comenta o pastor, em provocações a Clarice.
– Os meus garotos também estão aproveitando! Aqueles quatro ali, dançando em volta da piscina são meus obreiros! – Aponta o padre Fabiano.
– Que coisa hem! – Comenta ironicamente o pastor, tentando ocultar os lábios de intrometidos sorrisos.
– E aqueles jovens em volta da churrasqueira, juntos de meu filho João Pedro e sua noiva Tamires, são da igreja do pastor Irineu! Já dei uma passadinha por aqui hoje pela manhã! Fazem um churrasquinho daqueles! – Comenta Maria Francisca.
– Minha nossa! – Envergonha-se o pastor Irineu, estagnando o manifesto de seus irônicos sorrisos.
– Minha nossa! Acho que essa fala pertence a minha igreja, pastor Irineu!
– E esses jovens que vem em nossa direção! Quem são? Ei garoto! A que religião você pertence! – Pergunta José Carlos, após a aproximação do rapaz, que estaria bem na dianteira de sua acompanhante.
– A nenhuma! Sou ateu! Graças a Deus! – Dizia ele sorrindo.
– Minha nossa! Essa é a nossa filha? – Aterrorizava-se José Carlos, estando ao agora, mais do que antes, com os dedos apertados diante dos olhos, ao perceber que os seios da filha, por pouco não saltavam para fora do sutiã.
– Filha! Sabe como é o seu pai; não!
– Desculpa papai! – Comentava Marta, a filha caçula de José Carlos, após alcançar o rapaz que se dizia ateu.
– Você viu isso Francisca?!
– Desculpa meu amor! Eu não queria fazer isso, mas foi preciso!
– Não só isso! Não reparou na fala do rapaz que está em companhia de nossa filha!
– Não! O que foi que ele disse?
– Sou ateu! Graças a Deus! Se ele é ateu! De onde retira teu Deus?
– Não se preocupe com o rapaz, senhor José Carlos! Com certeza deve ser um penetra em procura de aventura! – Comenta o padre Fabiano em tímidos sorrisos, ao perceber que Maria Francisca gesticulava a cabeça negativamente, tentando dizer ao padre, que o rapaz não seria um penetra.
– Não havia prestado atenção na fala do rapaz! São tantos detalhes, que às vezes me perco! Estão vendo! Foi com essa intenção que pedi aos senhores que me indicassem alguns jovens de suas igrejas! Perceberam como eles se entendem! Na parte da manhã, me reuni com eles a respeito do mesmo assunto que tive com vocês, ao agora. E sabe o que eles disseram?! Disseram que seria uma maravilha, se houvesse a unificação das igrejas! Que estariam dispostos a fazer parte dessa ideia! São jovens de mente aberta, que respeitam a religião dos colegas! Pois o filho enviado de Deus, sempre será o mesmo Jesus!
– Ainda bem que minha filha não se encontra nessa festa, porque se não!
– Não está! Assim como também não se encontra meu filho, que por ser cadeirante, envergonhando-se do vigor físico desses jovens, esteja recruzo, esforçando-se sua filha de resgata-lo do profundo tormento. O que, antecipadamente, lhe agradeço por permitir que ela, como de outras vezes, continue a frequentar nossa casa. Seu entendimento com o problema físico de meu filho vem nos trazendo um grande conforto espiritual.
– Não nos custa nada dona Francisca! Minha filha fala muito bem de seu filho! Que ela não mede esforços para trazer-lhe conforto em sua investida! Levando a crer, que somente Jesus, em todos os seus milagres realizados durante sua passagem aqui na terra, se manifeste em trazer vida às pernas de Paulo Marcos.
Discursava o pastor Irineu, até que meia hora depois, Maria Francisca encerrava a reunião, pedindo para que seu motorista Epamilondas, levasse os jovens de volta para seus respectivos endereços. Maria Francisca, entusiasmada com a atitude dos jovens, conscientizava-se que seria através deles, o inicio da unificação das igrejas; deixando os de corações duros, de fora da próxima cruzada espiritual.
***
Aquela tarde poderia terminar harmoniosa; não fosse o alvoroço próximo as brasas da churrasqueira, onde duas moças se agarravam pelos cabelos, em disputa pelo pedaço de carne mau passado.
– O que deu em você Daiana?! Fica no anonimato por vários meses, e quando aparece é para arrumar tumulto! Solta o cabelo da Tamires! Está machucando ela!
– Essa mulher não é para você, João Pedro! Ou ela se arrasta daqui; ou enfio ela nessa churrasqueira! Não passa de uma interesseira! Está escrito em seus olhos! Só você não consegue enxergar! – Diz Daiana, tentando agarrar os cabelos de Tamires novamente.
– Escuta aqui, João Pedro! Ou você coloca essa mulher para fora daqui; ou vou eu!
– Calma Tamires! Vamos conversar!
– Não tem conversa! Ou você faz o que mando, ou vou embora pra sempre!
– É isso mesmo! Não tem conversa! Quem tem de sair daqui é você! Interesseira!
– Querem acalmar as duas!
– Já vi que não vai mandar ela embora! Pois bem! Sendo assim! Vou eu! Nunca mais me procure João Pedro!
– Volte aqui Tamires! Vamos conversar!
– Deixe que vá! Ela não é mulher para você!
– Como você pode saber quem é bom ou ruim para mim, Daiana? Por um acaso tem alguma bola de cristal? Você não pode aparecer assim, e agir como se fosse meu dono!
– Ai é que tá! Se eu não aparecer você nos ferra! Queria eu que esse carma passasse logo! Só assim terei sossego!
– Fala como se fosse minha mãe! Não te entendo! Des de que nos conhecemos, que age assim! Toda vez que meu relacionamento começa a ficar serio, você aparece para estragar tudo!
– Um dia você entenderá e me agradecerá! Agora me deixa voltar para minha paz!
– É sempre assim! Faz o estrago e some! Surge do nada e para o nada se esvai!
– Até mais ver João Pedro! Espero que a próxima seja a ultima! Tchau; tchau!
Após a primeira refeição do dia, Maria Francisca havia se reunido com alguns de seus funcionários, para as tarefas de momento.
– Sebastião! Vou precisar que você dirija para mim, hoje! Vamos ao médico! O Severino assumira o seu lugar no portão, até voltarmos! Vou dar uma folga para o Epamilondas, que nesses dias vem trabalhando bastante. Levar aqueles jovens em casa ontem, não deve ter sido uma tarefa fácil.
– Não precisa dona Francisca! Foi um trabalho gratificante! São crianças da melhor qualidade!
– Mesmo assim, quero que descanse! Subirei para me arrumar! Enquanto isso, Sebastião! Prepare o veículo!
– Quando a senhora estive pronta, já vou tá esperando no portão!
E como haviam combinado. Depois de uma hora, fora dos muros da mansão, encontravam-se estacionados na porta do consultório médico da família.
– Bom dia doutor Ricardo!
– Bom dia dona Francisca! Veio fazer os exames de rotina?
– Quase isso! Podemos entrar?!
– Vamos! Por favor! Acompanhe-me! Juliana! Sirva um cafezinho para o acompanhante de dona Francisca! Já, já estaremos de volta!
Pronunciava-se o doutor Ricardo com sua atendente, enquanto caminhava em direção ao consultório, onde ficariam a conversar durante o período de quinze, há vinte minutos.
– Então foi esse, o jeito encontrado para trazer seu funcionário para os exames?!
– Sim! Vamos deixar os meus, para outra ocasião. Desconfio que o Sebastião venha perdendo a audição.
– Sei! E a senhora veio antecipar a conversa, passando-me alguns sintomas!
– Sim! Não quero deixa-lo constrangido! Penso que seja essa, ha primeira vez, a vir ao médico! O Sebastião tem uma saúde de ferro!
– Tudo bem! Quando ele perceber, já estará diagnosticado!
E assim prosseguia com o prognóstico. Doutor Ricardo, fazendo uso de sua habilidade acadêmica, chegava à conclusão que o paciente Sebastião teria que compartilhar seus dias com o aparelho de audição.
***
– Porque estão todos gritando?! – Perguntava Sebastiao de volta à mansão, que, não entendendo o motivo, parecia ouvir o mundo aos berros.
– Já sei mamãe! O aparelho deve ter desregulado durante o percurso para casa! São tantos os buracos nas estradas, que se torna difícil, até para manter a cabeça sobre o pescoço.
– É mesmo! Concorda Maria Francisca, ensaiando um sorriso.
– Me deixa dar uma olhada Sebastião. – Intervém Marta, na tentativa de reajustar o aparelho.
– Agora sim! Estou entendendo todo mundo! É minha gente! Estava ficando surdo mesmo!
– É a idade, Sebastião! – Brincava a governanta.
– Também! Ficar naquele buzinaço de carro o dia inteiro, uma hora o bicho pega!
– Concordo com você Severino! São mais de trinta anos que o Sebastião suporta esse barulho estarrecedor nos ouvidos! – Comenta Marta.
– Feito esse comentário, lembro-me de um detalhe que havia esquecido!
– O que é patroa? – Pergunta Sebastião.
– Sua aposentadoria! Já deve ter estourando o tempo de contribuição! Veremos isso outra hora! Hoje não da! Tenho primeiro, que solicitar ao nosso contador Tarcísio, que de entrada no INSS! E quando estiver com a papelada pronta, pedirei para que ele traga aqui, para assinarmos! Está combinado assim?!
– Mais eu num quero aposentar! Estou bem aqui!
– Deixa de se bobo Sebastião! Vai aproveitar a vida! Ver seu filho! Quem sabe, de até morar com ele!
De olhar tristonho, Sebastião havia abaixado à cabeça, vindo a esconder-se em seu próprio silêncio; como se a fala do jardineiro Severino, de mãos a sua amolada tesoura, lhe retalhasse as esperanças, ao acaso de ir um dia, morar com o filho.
– Não dá!
– Desculpa Sebastião! Acho que falei besteira!
– Sebastião! Aposentar, não quer dizer que tenha de ir embora! O seu lugar estará sempre reservado aqui junto a nós!
– Mais num dá pra ficar comendo e bebendo sem trabalhar. Dá?!
– Sebastião! Sebastião! Já mais repita essas palavras Sebastião!
– Desculpa dona Francisca! Sei o tamanho do coração dessa família! Desculpa!
Dizia Sebastião emocionado, que não conseguindo mais se expressar; deixava que o silêncio continuasse a falar por si. O que ocasionou entristecimento aos participantes da conversa, com tal situação. Mas tudo haveria de se ajeitar, quando Marta, socorrendo-o pelas mãos, seguia em direção à cozinha, onde ficariam a conversar por algum tempo. Marta tinha os funcionários da casa, como membros da família, já que ela e seus irmãos, assim que vieram ao mundo, boa parte deles, já se encontrava na casa.
Três meses depois.
Era inicio de semana, quando, Tarcísio, o contador da família prontificou-se no espaçoso escritório da mansão dos Cheredas. Redistribuindo a papelada sobre a mesa, direcionava alguns documentos para as mãos do funcionário ao lado. Na frente de Tarcísio e Sebastião, o patrão José Carlos, Maria Francisca e a filha Marta.
– Tarcísio, vamos resolver a papelada do amigo Sebastião, por que o dia vai estar cheio!
– Não tem muita coisa pra resolver, patrão! Já trouxe tudo pronto! Bastam às assinaturas do empregado e do empregador, e tudo será acertado. A partir do mês que vem, Sebastião vai começar a receber o primeiro salário de sua aposentadoria, já que sua idade, somada aos tempos de serviço, lhe provém a esse direito.
– A partir de hoje, o meu amigo Sebastião vivera livre de suas obrigações nessa casa! Não lhe será estipulado horário a cumprir! Poderá dormir até mais tarde; sair a qualquer hora do dia e da noite, sem ter que dar satisfação há ninguém! Não é assim Tarcísio?
– Sim, senhorita Marta! Se assim o desejar!
– Obrigado minha boneca de porcelana! Coração de ouro! Só depende do patrão autorizar! – Comenta Sebastião em elogios a Marta, que a muito, bailou em seus braços em canções de ninar.
– Sebastião! A partir de hoje, não sou mais seu patrão! Apenas um amigo de longa jornada! O homem que foi um pai para meus filhos durante minha ausência! Ai está minha filha Marta, que não me deixa mentir! E olha que foram muitas as horas de minha ausência!
– Uma ausência aceitável papai! Sabendo que tudo procedeu em beneficio a nossa; como também de outras famílias!
– Bom! Estando tudo acertado; peço licença! Vou cuidar de outros assuntos patrão! Meus parabéns Sebastião! Não demora, e será a minha vez! – Dizia Tarcísio, retirando-se da mesa.
– Só tenho gratidão por essa família! Vocês me acolhero quando eu não era ninguém! Me deram o de comer, o de vestir, e um teto pra me abrigar do tempo.
– Pare Sebastião! Peço-lhe encarecidamente! Não como patrão! E sim, como amigo! Terei um dia longo! E penso que não seja bom, nos emocionarmos assim tão cedo! Sabe como é Sebastião! As emoções podem atrapalhar os negócios!
Encerrava José Carlos, sabendo os presentes, que, dependendo do assunto a tratar-se, às emoções deveriam ficar de fora. E José Carlos, por mais que não desejasse, sempre haveria de lidar com situações delicadas, onde, agir de pulso firme, seria o melhor para ambos os lados das inclusões sociais.
Oito meses haviam se costurado pelo tempo. Inimaginável como a rapidez de um relâmpago, que emergindo no horizonte, rasgava o espaço tempo, vindo a desfazer-se aos confins do infinito.
Apesar da unificação das igrejas não saírem de acordo com que Maria Francisca esperava alcançar, os religiosos continuavam a frequentar a casa dos Cheredas.
E assim anunciou-se com a chegada de Clarice, trazendo por companhia uma linda jovem, que, pelas evidências em sua fisionomia, fazer parte da genética de Clarice.
– Nossa! Bem que poderíamos chamar essa investida de recepção relâmpago!
– Não liga minha filha! A moça deve estar apressadíssima!
Comentava Clarice ao dar-se de encontro com uma linda moça, que inconformada com algum intemperes, atirava-se de encontro à porta de saída da mansão dos Cheredas.
– Me desculpem pelo mau comportamento de Patrícia. Daiana deve ter aprontado alguma atrapalhada com ela. E como sempre faz! A encrenqueira saiu pelas portas dos fundos, sem ao menos se despedir! – Comentava a governanta, referindo-se as duas moças.
– Que barulheira é essa Iracema? – Pergunta Maria Francisca para a governanta.
– Deu para ouvir de longe, não é?! É a Daiana novamente! Houve uma discursão feia lá em cima! Patrícia desceu as escadas aos galopes! Por pouco, não derruba Clarice e essa jovem!
– E onde está Daiana? Continua lá em cima?
– Não! Saiu pelos fundos da casa!
– Desculpe-me Clarice! Daiana vive aprontando! Nunca se decide a respeito do amor! Para falar a verdade, nem sei se é amor o que ela sente por meu filho! Se for! Deve ser proibido para ambos, já que nunca os fraguei com um beijo qualquer!
– Mamãe! A senhora viu a Daiana e a Patrícia por ai?
– A Patrícia! Pela velocidade que saiu daqui, já deve estar chegando a sua casa! Quanto a Daiana! Como disse Iracema; desapareceu pelas portas dos fundos!
Comenta dona Francisca, sabendo de antemão, que do mesmo jeito que Daiana surgia, assim também desaparecia.
– A Daiana me tira do serio, sabia! Nem acredito que ela conseguiu me trancar novamente no quarto! Tudo para evitar que eu alcançasse Patrícia! Sorte eu ter uma chave reserva em mãos!
– Ri, ri, ri, ri... – Sorria a jovem que acompanhava Clarice.
– Não ria Isabel! – Comenta Clarice, tentando esconder um tímido sorriso.
– Posso saber do que a moça está rindo?
– Desculpa! Foi impulsivo!
Tentando refazer-se da turbulência, João Pedro retornava para o quarto, não dando importância ao sorriso da bela moça! Ao deitar-se na cama, corria por seus pensamentos o motivo pelo qual, de Daiana se meter em seus romances, agradecendo a si mesmo, pela ideia de deixar uma chave reserva as escondidas na gaveta da cômoda, certificando que, acaso ao imprevisto, socorrer-se das eventuais travessuras da barraqueira.
– Desculpe-me pelo vexame, dona Clarice! Esses meus filhos só aprontam! Enquanto esse sofre com as investidas de Daiana, o outro fica isolado aqui dentro de casa, sem ao menos saber se lá fora chove ou faz sol. Se ha lua, ou estrelas no céu! Acabem de chegar! Sentem-se!
– Desculpe dona Francisca! Na distração, esqueci-me de apresentar minha sobrinha Isabel.
– Seja bem vinda Isabel! É uma moça linda! Puxou os traços da tia!
– Obrigada dona Francisca! É gentileza de sua parte!
– Falando a respeito de meu retorno em sua casa; apesar do tempo ocorrido, venho pedir desculpas por minhas atitudes passadas.
– Não precisa desculpar! Foi bom a senhora ter aparecido! Espero que continue a frequentar nossa casa!
– Ando muito ocupada com a construção de mais uma de nossas obras beneficentes! Assim que as coisas se acalmarem, retornarei mais vezes! Temos muito que compartilhar!
– Clarice, me desculpe por interromper! Interessa-se por livros Isabel?!
– Noto que meu olhar em direção aos livros não passou por despercebido. Desculpe-me dona Francisca. Esse mau hábito de reparar as coisas a meu redor é uma falha da qual venho lutando para corrigir! Mas tratando-se livro, torna-se difícil a resistência!
– Vá lá Isabel! Sinta-se em casa!
– Obrigada! Com licença!
– Essa minha sobrinha é apaixonada por livros!
– Isabel! Não se assuste se encontrar um cadeirante carrancudo por lá! É o meu filho! Ele também adora aquele lugar!
– Acaso esteja lá, ficarei em silêncio para não incomoda-lo!
Chegando ao local, Isabel constatara o que Maria Francisca havia relatado. Lá estava o cadeirante concentrado em sua leitura, que por encontrar-se sentado, não daria para descrevê-lo corretamente. No entanto, dava para fazer uma leitura parcial. Apesar da barba e o óculos de grau envelhece-lo um pouco; poder-se-ia dizer, próximo dos trinta e dois anos de idade.
Isabel, não pretendendo atrapalhar a leitura do rapaz, ajeitou-se na poltrona há três metros do leitor. Concentrada no que pretendia fazer, não tocando nos livros das divisórias da estante, pegava o que trazia em sua bolsa, dando inicio a leitura.
O cadeirante sentindo-se incomodado com a presença feminina, ora outra, olhando por cima dos óculos, tentava visualizar o que ela estaria lendo. Sem êxito, insatisfeito com a desconhecida intromissão em seu reinando, resolvera pronunciar-se.
– Vamos lá! O que pretende com esse silêncio psicológico?! – Indagava o cadeirante sem obter resposta. Isabel parecia em viagem por outras galáxias, não ouvindo, ou fingindo não ouvir o pronunciado.
– Se fazendo de surda?! Deve ser alguma psicóloga fajuta a mando de mamãe! Hei! Está surda! – Insiste o cadeirante que, não se contendo com o silêncio, dava de mãos as rodas da cadeira, fazendo com que os giros lhe posicionasse diante de Isabel.
– Oláaaa! – Insiste o cadeirante, estacionado há um metro de distância do corpo da moça, que continuava concentrada em sua leitura.
– Oi! Desculpa! Estava tão concentrada na leitura, que não havia percebido sua aproximação!
– Perguntei se você é mais uma das psicólogas fajutas que mamãe vive arranjando para me chatear.
– Bom! Se você diz, que uma neuropsicóloga formada na universidade de Harvard, for fajuta; o que você dirá de uma formada aqui no Brasil! Não! Não sou alguém contratada por sua mãe! Apesar de você demostrar, não se identificar com os psicólogos, só estou aqui fazendo companhia a minha tia Clarice. E como sua mãe me apontou esse local para leitura, decidi vir até aqui! Gosto de ler sossegadamente! A conversa não me deixa concentrar! Entende! Mas mesmo assim, muito prazer! Isabel!
– Me desculpa! É que minha mãe vive me empurrando psicólogos, achando que eles irão resolver meus problemas. Muito prazer! Marcos Paulo! – Após as apresentações, iniciava-se uma tímida conversa, que aos poucos iria se tornando descontraída.
– Então a moça gosta de ler!
– Sim! Assim como o moço!
– Tem preferencia pela literatura, Isabel?
– Não muito! No geral, gosto de tudo, um pouco! No momento, estou lendo um dos livros de Chico Xavier.
– Um livro meio arcaico para uma neuropsicóloga formada em Harvard!
– Como disse! Gosto de tudo, um pouco!
– Você não acha livros de religiões um tanto medíocre para uma pessoa instruída como você?! Uma literatura que além de tentar te aprisionar em suas regras, de nada valem para sua vida ou profissão.
– Pelo contrario! A maior parte de meus pacientes, quando se tornam escassos os recursos acadêmicos; são pelas palavras espirituais, que conseguimos resgata-los para a vida social.
– Não acredito! Podendo lhe provar por minha deficiência! Os religiosos dizem que encontrarei as respostas que preciso na bíblia, mas já li o suficiente para lhe apontar por diferentes parábolas, que nada condiz com a realidade.
– Tem razão! Medíocre para uma pessoa formada em letras, teologia, pedagogia, psicologia, sociologia e neuropsicológica! No entanto! Minha leitura a respeito desse livro vai ao além de minha compreensão. Não querendo me meter, penso que deveria continuar tentando. Quem sabe, encontre algo que te sustente nas particularidades esotéricas.
– Incrível! Meio a tanto diagnostico da profissão, me surpreende esse seu conformismo literário!
– Sabe o que estou tentando aprender com essa leitura?! – intervém Isabel, fazendo com que Marcos Paulo penetre cada vez mais em suas provocações psicológicas.
– Definitivamente não sei! O que é?!
– Que minhas formações acadêmicas de nada valem, se eu não cuidar do lado espiritual! Confesso está sendo difícil acompanhar o raciocínio do Chico, no paragrafo que leio! Um, que fala a respeito da disciplinarização do comportamento! De como certas pessoas podem por simples gestos, mudar o direcionamento de sua vida! Raciocina comigo! Chegando aqui, quase fui atropelada por uma moça que saia aos galopes sem ao menos se desculpar. Olhando para a sacada ao tope da escada, deparei-me com a visão de um rapaz, que apesar de lindo, sua antipatia se iguala ao tamanho de sua beleza. Desmascarou-se por conta de um sorriso que me escapou! Agora como se não bastasse, me deparo com outro bonitão arrogante, que tenta me destratar por causa de meu gosto literário. Você não acha que essas ações poderiam ocorrer diferentemente se educasse nossas atitudes?! Às vezes, sem que percebamos, podemos por comportamento negativo, nos atirarmos por infinitas armadilhas, citando a depressão como uma delas.
– Me desculpa! Aproveitando para pedir desculpa por João Pedro! Ele é um bom rapaz! O problema é a Daiana, que ao sentir a felicidade de meu irmão, aparece para tira-lo de foco! Desculpa! É o que eu posso fazer! Pedir desculpa! Estão brigando dês de cedo! Quanto ao livro que está lendo; influenciar na vida das pessoas; discordo plenamente! Como disse! já li vários livros de indiferentes religiões! O que não me levou a nada! Fugindo-me ao entendimento o espiritismo, que para maioria dos cristãos, não considera-la como religião. E para finalizar, não penso que, o que eu faça, possa alterar alguma coisa em minha vida! Não vejo como, de minhas atitudes influenciarem no que acontece ao meu redor! Sendo esse o caso, minha deficiência física já haveria de ter me empurrado em direção aos comportamentos antiéticos, ocasionando a levar-me a depressão.
– Às vezes, quem tem, não sabe! – João Paulo, sentindo-se ofendido com a fala de Isabel, resolvera se defender.
– Já passou por sua cabeça que, o que está acontecendo agora, poderia ser evitado pelo simples fato de você não ter aparecido?
– Seria o mesmo que negar o amor que tenho por minha tia, já que minha saudade por ela empurrou-me até aqui. Está vendo o motivo de não entender o raciocínio literário de Chico. Negar o amor por minha tia me tornaria uma pessoa fria.
– Me desculpa, não queria ser grosseiro! Tenho que escolher melhor as palavras!
– Isso!!! Vejo que já demos os primeiros passos para seu tratamento! Reclamar com o paciente a respeito da própria rotina de vida, para ver se ele, comovido, resolva compartilhar seus problemas com o psicólogo.
– Vixiii... Como diz o nosso jardineiro Severino! Cai feito um patinho em sua armadilha! – Comentava Marcos Paulo, preparando-se para fazer a cadeira se movimentar em direção oposta, quando Isabel segurando-o pelo braço, colocava-se de olho no olho.
– Brincadeirinha seu bobo! Adoro essas pegadinhas! Tenho vários vídeos de animadores de plateia em meu apartamento! Quando posso; não perco a oportunidade de colocar em pratica algumas das falas! Ri,ri,ri,ri. – Sorria Isabel, fazendo com que Marcos Paulo sorrisse também.
– O que é isso Clarice?
– Me parecem sorrisos vindos da sala de leitura!
– Não acredito! Meu filho dificilmente sorri!
– Em companhia de minha sobrinha, vai estar sempre sorrindo.
– Pelo amor de Deus! Traga ela, sempre que puder!
– Como queira Maria Francisca! Ela ainda ficará no Brasil por algum tempo! Veio ver uma proposta de trabalho! Dependendo da entrevista, penso que ela não retornará para Nova York! Ela não se adaptou muito bem ao clima de lá! Para não falar, da agitação da cidade!
– Ela é formada em alguma especialidade?
– São tantas suas formações acadêmicas, que até me perco! É uma moça muito dedicada aos estudos! Começou a estudar muito nova! Lembro-me de uma época em que ela cursou duas faculdades ao mesmo tempo! Uma durante o dia, e outra no período da noite!