Alfonso, por suas atitudes radiantes, poderia se dizer um garoto feliz. Sendo filho único, nascido em berço de ouro, regrava de uma vida permeada de pessoas importantes da sociedade; já que seu pai Aristóteles, além de ser um grande empresário fabricante de calçados, tinha uma grande quantidade de imóveis espalhados pela cidade. Doramirtes, além de ser uma dedicada mãe e esposa, trabalhava como supervisora em um colégio militar, dizendo fazer de Alfonso por caminhos cívicos, um exemplar cidadão. Aos festejos de final de ano, era que se podia constatar a tamanha influência da família Castramor com a elite da sociedade; mostrando-se pela fartura exibida na mesa, o melhor do que se podia comprar.
Prontificando-se de que a vida sempre será tomada por imprevisíveis momentos, comportando-se igualmente ao movimento de uma roda gigante, onde ao passeio rotatório, os que se encontram na parte superior, poderiam ao esmo estacionarem na parte inferior da roda; estando a família de Alfonso preste a participar do processo de inferioridade. Uma crise econômica havia abalado as exportações de calçados, levando à falência os distintos representantes da empresa; afastando por definitivo a nata da sociedade frequentadora da casa de número 7810, no entroncamento das ruas do Evaristo com a Custódio, no bairro das Princesas.
Com o decorrer do estacionamento da roda gigante na parte inferior, Aristóteles, com o pensamento ainda impregnado com a vida em abundância, inconformado com a pobreza, fora levado a óbito pela química do destilado barato. Doramirtes, desamparada pelos amigos, não tendo forças para superar tais rejeições, trancafiou-se no quarto, até que a depressão em estágio avançado retirou-a do mundo pelo infarto fulminante.
Alfonso com seus dezesseis anos, teria que se virar sozinho, já que, com a perda dos pais, também havia perdido toda a riqueza acumulada por eles, que para fingirem manter os status sociais, o levaram a esse consenso, restando para Alfonso, a casa onde fora criado. Sua vida, se não fosse bem trabalhada, poderia levá-lo ao mundo maltrapilho. Havia se apartado da escola na tentativa de ganhar seu sustento por intermédio de uma oficina mecânica, onde, pela generosidade do patrão tornou-se um excelente profissional de motores a diesel; passando a ganhar o suficiente para manter uma família com dignidade financeira.
O amor havia se apresentado para Alfonso pelas portas da casa vizinha, quando, levado pelos encantos das músicas românticas, havia se enfeitiçado com os traços de Jussara. Uma bela moça de pele clara cujos olhos caramelados haviam lhe hipnotizado. Uma moça prendada que morava em uma quadra não muito distante do bairro das Princesas. Uma moça reservada, que aproveitando o bom humor do pai, fora liberada para este festejo, que se soubesse o que se passava, certamente não teria liberado a filha para esses fins.
Porém, naquele momento de paixonite; de nada importava para Jussara, a permissão do pai, ou não, já que também havia se encantado por Alfonso, sentindo pelo toque dos lábios do rapaz, o encanto do primeiro beijo. E como Alfonso sempre fora dedicado no que fazia, dedicou-se também de aprisionar em seu peito o coração da bela Jussara, quando aos finais de semana, após o término da missa na igreja da pracinha, dividirem-se em juras de amor, até que chegue a hora de se recolherem para suas moradas.
Dois meses após o baile, Alfonso conseguira ganhar a confiança de Jussara, quando ela apaixonada, resolverá levar adiante o namoro, convidando-o para uma conversa amigável com seus pais. Nada poderia dar errado, com certeza os pais da moça o receberiam de portas abertas. Alfonso tinha um bom emprego e apesar de não tornar-se a pessoa da qual a finada mãe pretendia, poderia ser considerado um bom cidadão, não adquirindo vícios, ou envolvimento com quaisquer tipos de malevolências.
A decepção de Alfonso e Jussara ultrapassava o que poderia ser chamada de rejeição antipática, pela forma a qual fora recebido por Juvenal, o pai da moça, que ao vê-lo dirigia-lhe invariáveis tipos de insultos, retirando dos túmulos, por palavras marginalizadas, os pais a quem tinha toda admiração. "Uma lástima"; dizia Alfonso ao se despedir de Jussara no portão de sua casa, não entendendo o porquê do senhor Juvenal o odiar tanto, vindo amaldiçoar a ele e sua família até a sétima geração; passada e futura.
E assim seguia a vida de Alfonso que por mais que tentasse, não conseguia uma aproximação com Jussara, fazendo com que o pai Juvenal lhe trancafiasse a sete chaves, impedindo-a a diversões quaisquer. O rapaz estando sem opção recomendável à boa ação, imaginara em apelar para a violência. Diante das circunstâncias! Como impor os punhos ao homem de saúde de ferro, que vivia dizendo pelas vizinhanças, que por não ter nenhuma parte dos ossos quebrados, com certeza iria entrar no reino do céu. Um comentário muito repetido por ele, vindo passado de geração para geração, não podendo afirmar ser verídico tal provérbio em sua religião. Uma muralha de pedra. Assim enxergava Alfonso o pai de Jussara. O homem que se quer pegava algum resfriado. Das piores; uma doença que circulava de vento em popa, naquele ano de mil novecentos e setenta e três. Podendo nomear a meningite, como a mensageira da morte que vagava de porta em porta em companhia do ceifeiro, a fim de resgatar alguma alma pendente.
Alfonso por frustradas tentativas de fuga com sua amada, não tendo a maldade nas veias, ao impasse de tirar a vida do pai de Jussara, aos poucos se entregaria ao gosto do vício alcoólico, procurando por meio dele, algum antídoto para o coração partido. Quem sabe um pouco de alegria a sua vida, a tanto machucada. Tentando unir o inútil ao agradável, passou a frequentar um bar próximo a casa de sua beldade, onde dava para ver o que acontecia em sua varanda. Porém, seriam poucos os momentos de presença da moça na frente da casa, já que descoberta as intenções de Jussara pelo pai, era imediatamente arrastada para dentro de casa, que após castigá-la com algumas bofetadas, sobrecarregá-la com afazeres, desnecessário ao devido momento.
Certo dia, Jussara tentando enfrentar o pai, pela insistência de fugir com Alfonso, havia levado uma surra ainda pior, deixando sequela para toda sua vida, sobrando até para a mãe, que tomando as dores da filha, tentava sem êxito impedir o açoite.
O tempo passava e com a vida perdida em bares, Alfonso, assim como o falecido pai havia adquirido o vício pela bebida alcoólica. A cada gota de álcool que deslizava pela garganta de Alfonso, uma triste lágrima escorria dos olhos de Jussara. Uma agonia que permaneceria por vários anos; até que em um triste dia, Alfonso não mais apareceria no bar próximo da residência da desejada donzela. O excesso de bebida havia lhe consumido o último suspiro, sabendo pela boca da vizinhança que a cirrose o havia levado.
Em um velório de poucos amigos seguia o féretro para o cemitério local, onde ao lamentar dos confraternizados, seria atirada a última pá de terra sobre os sonhos de Alfonso. Antes que convenha o término da passagem fúnebre, ouvia-se comentários maledicentes de alguns participantes a respeito de enganosas atribuições.
Alocado dentro de um terno preto, o senhor Juvenal, se passando por bom samaritano, dirigiu-se para o último adeus. Ao atravessar a rodovia que daria acesso ao cemitério, deparou-se com um cão que, por motivo desconhecido fora atropelado naquele devido momento. O animal, implorando pelo último suspiro, pode ouvir de Juvenal que havia encontrado o que procurava ao atravessar uma pista tão perigosa quanto aquela.
O bom samaritano dando continuidade a sua ação postava-se de mãos nas alças do caixão de Alfonso, fazendo com que o cortejo seguisse adiante. Diante da cena, os amigos do defunto mostraram-se incrédulos por terem de compartilhar o momento fúnebre com tal individuo, que não dando por satisfeito em ajudar carregar o féretro, também ajudaria a espalhar terra sobre o caixão. Enganando os ali presentes, Juvenal se daria por satisfeito ao avistar pela última vez o rosto do que por insistência, almejava lhe fazer de sogro. Quem sabe o Juvenal por sua doentia perseguição, houvesse imaginado que o enterro não passasse de uma trama orquestrada por Alfonso e seus amigos, que esperançosos por um golpe de sorte, ao simular de sua morte, tencionava-se pelo imprevisto momento, fugir com sua filha Jussara. Para que isso não se concretizasse, Juvenal teria que ter certeza que Alfonso realmente estaria morto, ajudando a jogar a última pá de terra sobre seu desafeto; certificando de nunca mais o ver importunar sua família.
– Hipócrita... Comentava Jussara com a mãe, não se adequando a atitude do pai, ao vê-lo passar por bom samaritano indo prestar condolências a pessoa que sempre desprezou. Diferentemente da mãe, que imaginava que o marido estivesse arrependido de sua má conduta; que por sua religiosidade, essa seria a forma adequada ao último adeus, sabendo que aquele rapaz fora o único homem que verdadeiramente havia amado sua filha, sabendo que Jussara jamais havia direcionado seu olhar para outros rapazes, que ao ver de Juvenal seriam exemplares genros. Ou quem sabe frente aos olhos da vizinhança, conhecedores das intenções de Juvenal que, haveria ele de participar do enterro somente para certificar que sua filha estivesse livre daquele encravo de pessoa, segredando dos curiosos, o motivo de odiar por eterna geração a família de Alfonso.
Assim como o pai, Jussara havia se vestido de luto; consciente que, como já permanecia trancafiada dentro de casa ao impedimento de juntar-se à pessoa amada, agora, mais do que nunca, manteria seus votos de solidão.
Após o enterro, tendo Juvenal confirmado que Alfonso havia realmente se tornado defunto, saia lentamente pelo portão do cemitério esbanjando arrogância. Perdido em pensamentos vingativos, aparentando possuído por algum espírito obsessor, lançou-se em seu ego ao destino de sua morada.
Desatinado por algum instante, ao tentar romper a rodovia que demarcava o cemitério do bairro onde morava; sem se dar conta do que poderia acontecer, fora atingido em cheio por um caminhão que trafegava em alta velocidade, morrendo ali mesmo; próximo ao cão, a cinquenta metros do portão do cemitério; para onde naquela mesma hora do dia posterior, ser enterrado em cova próxima a de Alfonso. Duas mortes, cujas influências seriam motivadas pela paixão e vingança. Alfonso; pelo incondicional amor. E Juvenal; por uma inexplicável repulsa para com Alfonso e ao sobrenome da família Castramor.
Poderia pela incerteza próspera da roda gigante, alguma boa alma trazer conforto ao coração de Jussara, dizendo que seu pai por ter muitos dos ossos quebrados, teria encontrado as portas do inferno; enquanto Alfonso, o simples rapaz de pensamentos benevolentes, apesar de ser levado pelo vício do álcool, estaria a desfrutar do paraíso. Quanto ao pobre cão que nada teria haver com o impasse, em sua nova vida, encontrar-se-ia a bailar em volta da batina de São Francisco de Assis, o protetor dos animais.
- Jussara! Já faz cinco anos que seu pai já morreu minha filha! Até eu a esposa já me abstive do luto. As pessoas estão começando a me perguntar, se apesar de tudo que seu pai tivera feito a você; seja ele merecedor desse luto.
- Quando te perguntarem novamente a respeito de tal tragédia, diga que o luto nunca foi e tão pouco será por ele.
Paulo Florido.
Distribuindo-se pelos arredores da mesa; quatro acentos. Sobre a mesa; pedras de dominó. Uma inseparável amizade que, pela consequência do empreendedorismo caminhava por longas datas. Mostrava-se uma tarde um tanto indiferente; estando os amigos a coser candonguice, quando, ao distanciar do entretenimento, propagava-se através das ondas do rádio, uma polêmica condicente a astrologia. Um debate que estaria por aqueles dias ocasionando indiferentes comentários; estando alguns participantes da narrativa, eufóricos pela resposta adequada para ilustrar o verdadeiro formato da terra.
O locutor em sua experiência jornalística conseguia interagir com estrema facilidade as perguntas de seus ouvintes, diagnosticando via telefone, a visão artificial do que os astrofísicos discursavam. Os quatro amigos, fazendo ênfase a narrativa, concentravam a audição ao rádio próximo à mesa onde era disputada a partida de dominó. Eles poderiam se doar a essa ocasião, já que a riqueza de seus empreendimentos os isentaria ao trabalho árduo. Mas chamavam-lhes a atenção pela discursão escambau, imaginando que, nada do que chegasse pelas ondas do rádio, haveria de lhes trazerem algum rendimento instrutivo, proporcionando-lhes a fazer o que desse na teia.
– Por isso eu digo que a terra é plana!
– Dizia um dos amigos, deixando-se levar pelas ondas do rádio, instigando-se com as provocações de um dos formadores de opiniões
– Admiro você Querela! Uma pessoa a tanto convivendo com as interjeições da vida; que apesar de sermos influenciados por uma mesma cultura familiar, dizer concordar com um insano, que tenta levar as pessoas pelo caminho das quimeras.
– O que tem isso haver Cortês? Cada qual tende pelas decisões individuais! Concordo plenamente quando um deles diz que a terra é plana. E não estou absorvendo dele essa afirmação, comentando de antemão, o que minha bisavó já ouvia de seu bisavô, ao decorrer da história planetária. Portanto, isso me vem sendo passado de geração para geração.
– Engraçado Querela! Há tanto tempo convivendo com você e somente agora me chega a esse comentário. Não estou acreditando no que estou ouvindo!
– Nunca havia tido relevância como agora, Cortês.
– Pois posso lhe afirmar através de experiências cientificas, que Aristóteles, parente longínquo de meus antepassados, ter conseguido provar que a terra é redonda.
E assim prosseguia a conversa por um longo tempo, deixando os outros dois amigos enciumados pela conversa não ter estendido até a eles. O interesse pela partida de dominó, aos poucos iria desmoronando, anunciando-se que o debate do rádio iria tomando conta da mesa, ao intuito de comprovar se a terra seria plana ou redonda.
Um terceiro amigo percebendo que o assunto iria tomando proporções preocupantes, colocando em xeque uma amizade que já perdurava por décadas, atreveu-se a sugerir que parassem com os pesos e medidas, antes que, por motivos fúteis descambe pela ignorância mutua. Tentaria por seu ponto de vista, apaziguar a discordância com conversas difusas.
– Deixem de tolices! Estão os dois enganados! A terra, não é plana e tão pouco redonda!
Os dois amigos que aos poucos estariam a compartilhar de indiferentes opiniões, unindo-se a uma só voz, em questionamento ao comentário do terceiro amigo, optariam se houvesse lógica ao decorrente; chegar ao senso comum. Diferentemente do que se esperava; nada do que o amigo houvera dito serviria para amenizar a contenda; confundindo ainda mais os pensamentos dos que esperavam uma atitude de apaziguamento.
– Então nos diz Irado! Se não é plana e tão pouco redonda! Como ela se propaga em sua mente?
– Não se propaga em minha mente! Querela! Esses são dados físicos científicos que afirmam categoricamente que a terra é um geoide. Ou por outra visão, tratar-se de uma esfera achatada nos polos, onde pela linha do equador, torna-se a circunferência mais avantajada na posição horizontal, do que na vertical.
Agora o debate estaria sendo compartilhado por três teorias diferentes, deixando para que o quarto amigo apaziguasse as incoerências, imaginando Querela, que o quarto partidário em sua certeza confirmaria que a terra seria plana, já que sendo forte o laço de amizade entre os dois, teria grande chance que seu aliado Imprevisível votasse a seu favor.
Cortês por sua vez, quem afirmava que a terra seria redonda; tinha convicção que o quarto amigo haveria de votar em sua opinião, sabendo que tempos atrás, haviam presenciado um eclipse lunar, onde por sua visão imaginaria, mostrava-se visível à sombra da circunferência dos astros margearem uma de outra.
Irado, por achar que eram aliados, mas não ao ponto de puxar a sardinha para ele, não sendo exageradas suas particularidades em vista dos outros adeptos; teria que concordar sim, com sua opinião, já que sua teoria seria a mais plausível, sabendo que sua afirmação fora relatada por renomados cientistas mundiais.
Os amigos se entreolharam, indo os três pares de olhos se direcionarem aos olhos de Repentino. Como dissesse para que ele desse o voto de minerva. Entendendo o quarto amigo a indireta, em sua imprevisibilidade, retroagia.
– Sinto muito pelos amigos, mas a terra não é plana, não é redonda, e tão pouco como Irado havia relatado. Para a infelicidade de vocês, a terra sempre foi e sempre será quadrada. Concluindo pelas luzes refletidas do universo ao planeta quadrado; por visões de ótica; ela chegue a nosso entendimento de uma forma cilíndrica. Porém! Se lhes servem de consolo, viaja por meus pensamentos que todos nós estejamos corretos nas afirmações, já que cada qual enxerga as configurações na forma que o cérebro deseja. Tipo essas nuvens perdidas no céu, onde ao admirá-las, desenhamos varias imagens. Por exemplo: Enquanto eu vejo um elefante sendo arquitetado pelas nuvens; outra pessoa olhando para a mesma; poderá enxergar uma serpente. Ou por outras visões a mesma nuvem, enxergarem uma cadeia de montanhas, outros; outra forma imaginaria, e assim sucessivamente. Por outros indicativos; acaso da versão tridimensional, haverá confusão aos extremos.
– Pode ser! Mas, não é certeza que possa ser verídico o que Repentino diz! Certa vez uma pessoa me mostrou o desenho de um sapo, dizendo ter a imagem do anfíbio compartilhada com a face de um cavalo. Confesso que, se não tivesse esforçado, não conseguiria ver sapo e cavalo dividindo o mesmo espaço. – Conclui Cortês, em sua diferenciada opinião tentando dar uma salva de confiança ao amigo Repentino!
Por pouco os amigos não haviam chegado a um consenso ao ouvirem as palavras do quarto amigo, imaginando que poderia ter um pouco de lógica ao que dizia. Apesar da quase concordância, as afirmações não seriam sólidas. Sendo assim! Após um longo debate chegariam à conclusão que; para obter a verdade teriam que sair em procura de respostas; ficando combinado que cada um dos quatro amigos seguisse em direções opostas, a procura de renomados cientistas mundo a fora. E quando se descobrisse a verdade, essa verdade fosse passada para o papel e aprisionada dentro de um envelope, quando ao retorno da jornada, estipulada pelo período de um ano, ao abrir dos envelopes, viria à tona de como seria verdadeiramente o formato da terra. E assim sucedera, com um seguindo para o norte, outro para sul, o terceiro para o leste e o quarto para o oeste.
Um ano havia passado. E como se havia combinado. Os quatro envelopes foram arremessado sobre a mesa, ficando acertado entre eles, que as escritas fossem repassadas de mãos em mãos, deixando os comentários para o final da leitura. Quando tiverem certeza de que as verdades coincidiriam com seus esforços. O Cortês havia trocado de envelope com o amigo Querela. E o Irado com o Repentino.
– Interessante! As verdades de Cortês coincidem com as minhas! – Dizia Querela.
– Engraçado! E a do Irado, corresponde com minhas verdades! Puxa vida! Será que nossas verdades coincidirão com a de vocês?! – Suspeita Repentino.
– Espera para ver, Repentino! Agora vamos alternar os envelopes até que todos tenham conhecido a verdade um de outro. – Insinua Cortês.
Depois de todos lerem as verdades nos envelopes, passaram a sorrir copiosamente, indo a se abraçarem como se fosse o ultimo dos dias. Depois da imensa gratidão transmitida pelas trocas de afetos; igualmente a primeira vez; seguiram em direções distintas para nunca mais reiniciarem uma nova partida de dominó; deixando esquecida em suas agendas imaginárias, o debate pelas ondas de rádio, no que dizia respeito ao formato da terra.
Pela curiosidade do vento, sopravam-se os envelopes sobre a mesa deixando em evidências o motivo da separação, dos que diziam eternos amigos; relatando pela descrição, que o mundo não seria da forma ao qual haviam imaginado. Que o planeta terra nunca teria existido. Que tudo que acreditavam; não passaria de hologramas desenvolvidos por uma inteligência alienígena.
Portanto! Não haveria a necessidade de continuarem com a farsa; onde suas amizades assim como tudo que haviam adquirido pelo longo da vida seriam utopias, cabendo a cada um dos amigos, seguir o próprio caminho até que suas identidades se decepem ao fingimento da morte; decifrando eles, que o tempo nunca houvera existido. Nem o antes, o agora ou o que poderia haver depois.
Entrelaçados pelo mesmo raciocínio, assim fora feito, deixando para trás o que se poderia imaginar de um mundo real. Que seus desejos, seus egoísmos, suas ambições, suas contradições, quanto a outras conjunturas sociais, ou antissociais, seriam artimanhas criadas pela inteligência artificial. Que viver a vida e desintegrar-se com a morte, não passaria de caraminholas.
Gioconda não era a rainha do Nilo, mas despertava atenção aos admiradores da beleza. Nos concursos realizados pelas cidades circunvizinhas do estado onde morava, sempre fora agraciada com o primeiro lugar entre outras graciosidades; vangloriando-se pelas tantas vezes que fora eleita por unanimidade com o titulo de Miss regional pelos conjuntos de jurados. Filha de mãe solteira, seus valores estéticos pouco contribuíra para que tivesse uma vida financeira relevante diante dos olhos da sociedade, carregando consigo o currículo de origem plebeia.
Uma menina de um e setenta de altura, pele clara, loira, olhos azuis, que havia acrescentado naquele setembro de primavera, dezesseis rosas em seu canteiro de vida. Tentada por novas aventuras, aos poucos iria se envolvendo pelo sabor da paixão; que pela imaturidade, acaso escolhido o parceiro errado, poderia se machucar com os espinhos da mocidade. Atraída pelo amor, entrelaçando-se pelas fantasiosas teias do destino, ficaria conhecendo o indiferente palpitar de coração, assim que lhe fora apresentada ao primeiro beijo.
Não dava mais para esconder, ficando evidente entre os professores que o garoto Isaías andava trocando caricias com Gioconda durante os intervalos disciplinares, dando continuidade ao inexperiente relacionamento pelos arredores da instituição educacional. Na visão do casal, um namoro que, se não houvesse empecilhos poderia resultar em festa matrimonial; entendendo pelas juras, que os laços existentes entre eles refletiriam ao eterno amor. Porém, como a vida está sempre pronta a nos pregar peças, a dos apaixonados não seria diferente.
“Eterno até quando durasse.” Estaria escrito a esse contesto o novo episodio na vida de Gioconda, já que, enterrado o mês de outubro, enterrava-se também o avô de Isaías, que partindo dessa para melhor, havia deixado os negócios da família aos cuidados dos herdeiros. O que resultaria no fim do romance, certificando pela confidência de Isaías, que os negócios da família estariam localizados em um estado distante da cidade onde estariam residindo os apaixonados.
– Como uma morte tão distante de nós pôde acabar com nossa vida, Isaías? O que será de mim sem o teu amor?!
– Estou tão arrasado quanto você, Gioconda! Por mais que eu tente intervir com meus pais a respeito de nosso amor, eles me ignoram! Dizem que além das obrigações com os negócios da família, são contra essa união prematura, insinuando que meus dezesseis anos me impedem de enxergar a realidade dos fatos.
– E você, acha prematuro o que sentimos um pelo outro?!
– Claro que não, Gioconda!
– Se realmente pensa assim, então vamos fugir desse lugar!
– Para onde? Se tivéssemos formados em alguma disciplina, talvez conseguíssemos algum emprego. Pior! Por sermos menor de idade, nossos pais colocarão as autoridades atrás de nós. – justificava-se Isaías, um rapaz de bom conceito moral, que diferenciando do sexo, sua fisionomia refletia as mesmas características de Gioconda.
Percebendo que não haveria nada que pudessem fazer, o tempo passou. Anunciado os trinta dias da partida de Isaías, os apaixonados haviam chegado à conclusão de aproveitar o máximo, do pouco tempo restante; resolvendo desfrutar de suas intimidades, onde o sexo seria a carta de alforria para a cópula carnal, tendo como cenário da vida a dois, o abandono do quarto de Gioconda, quando a mãe se retirava para os compromissos trabalhistas. A deriva das núpcias e isenta de alianças, as trocas de fluídos se repetiriam pelo período de vinte dias, quando havia chegado a hora derradeira da paixão.
Uma despedida carregada de melancolia, onde o choro de Gioconda tornava-se tormentas pela boca da vizinhança, seguindo assim por duas longas semanas, ficando claro para a moça, que os espetáculos eróticos nunca mais haveriam de se refletirem pelos azuis dos olhos de Isaías.
Os dias de aflições não seriam diferentes diante de tantas outras encenações que estariam por vir, anunciando pela catástrofe emocional, o desprezo pela vida. A mãe de Gioconda, apesar de comovida, pouco fazia para tentar aliviar o sofrimento da filha; já que, tomada pelo presságio, temia pela sina de sua sucessora, ter de reviver o mesmo erro que cometera no passado; prontificando-se a sobrinha Priscila, em dar fim ao luto romântico existente entre sua prima Gioconda e Isaias.
Priscila em sua artimanha estudantil havia adquirido dois ingressos para o Show de Axé que aconteceria no clube da cidade. As primas, na tentativa de apaziguar o emocional optaram por substituir a monotonia pelo contentamento, que apesar de não se adequarem ao novo entretenimento, curtiriam o quanto pudessem do espetáculo baiano. Priscila, fazendo uso de seu charme havia conquistado o guitarrista do grupo, quando ela, intencionada em envolver a colega de balada ao mais novo relacionamento, pedira ao instrumentista que arranjasse um parceiro adequado para sua prima.
Gioconda, na tentativa de esquecer Isaias, sabendo que ele nunca mais retornaria a cidade atirou-se aos braços de Gizam, o vocalista do grupo de Axé. Um baiano de largos sorrisos que não conseguia disfarçar o apego por suas tranças afro-brasileiras. Um irradiante rapaz negro, que não encontrando dificuldade com o novo relacionamento, investiria seus galanteios ao aconchego dos seios da loira faceira. Uma temporada de muitas aventuras, aproveitando o máximo à estadia do grupo de Axé na cidade, onde alguns fuxiqueiros afirmavam que Gioconda já houvesse esquecido definitivamente a paixão por Isaias.
E mais uma vez; tendo dia e hora para que as aventuras finalizassem, chegava a hora da partida do grupo de Axé. A loira de olhos azuis, pouco havia se importado com os comentários, carregando em seu conceito as dores do coração partido pela perca do primeiro amor; ignorando por completo o relacionamento extravagante que tivera com Gizam.
Uma semana havia acrescentado aos dias das primas, dês da partida do grupo de Axé, insistindo as más línguas em julgarem as atitudes de Gioconda, que não dando tempo ao luto da despedida pelo amor de Isaias, já havia se relacionado com um rapaz completamente distanciado de seu convívio social.
Os dias nasciam e morriam e com o decorrer do processo temporal, apareceriam em Gioconda, sintomas desconhecidos por seu corpo, descobrindo pelas conversas com a mãe, que estaria gravida.
– Gravida de um vocalista de Axé! Não foi isso que planejei para você, Gioconda! Como pode fazer isso comigo?! Tanto te alertei para que não caísse no mesmo erro cometido por mim no passado! Agora, carregando a cruz de seu pai que me abandonou na gravidez, vem você me fazer reviver a mesma tragédia! – Lamentava aos prantos a senhora Gení, mãe de Gioconda.
Cenário que viera contribuir para aumentar o desgosto de Gení, que ao vê a filha cair no mesmo erro que caíra no passado; dominada pelo momento de histeria bania Gioconda de casa, sem ao menos se perguntar se o erro que cometera em tempos remotos, não retornasse ao agora para dar-lhe a oportunidade de se apaziguar consigo mesma. Que ao estender de mãos em socorro à filha pelo flagelo que estaria passando, se redimir da própria cruz que lastimava carregar.
Gioconda se sentindo culpada pelos erros, nada questionou. Fazendo mala do pouco que podia levar, saia de casa a procura de abrigo. Ao pedir ajuda à prima, fora negado por seu tio George, que era pai de Priscila e irmão de Gení, que em sua defesa alegara não ter como conviver com a filha de uma pessoa que a muito o culpava por desavenças familiares, restando para a Gestante os favores de rua.
A beldade que nunca havia conhecido o pai se completaria em solitude com a rejeição da mãe. Se pelo ao menos Isaías soubesse de sua situação, talvez viesse socorrê-la. No entanto, aquela jovem um tanto amargurada não recorreria a esse pedido, sabendo que das varias correspondências que enviara, uma se quer fora respondida, acontecendo o mesmo com os telefonemas que nunca chegavam ao entendimento de Isaias; suspeitando Gioconda que seus familiares na tentativa de ajuda-lo a esquecê-la, não demostrassem interesse pela troca de confidências. Pior ficaria se os pais de Isaias soubessem que a ex-namorada estivesse gravida de outro rapaz, cujas ramificações não se adequassem a árvore genealógica de Isaías.
***
Poder-se-ia perder a esperança os flagelados, se nesse mundo habitado por pessoas de má índole, não houvesse surgido dentre o brio da luz Divina, um ser iluminado de coração nobre que pudesse dissipar o mal fluido que pairava sobre o carma de Gioconda.
Encontrava-se a jovem deitada na calçada sobre um apanhado de papelão, coberta por folhas de jornais, na tentava inútil de se proteger da brisa que lhe assombrava o corpo naquela madrugada fria de sexta feira. Poderia a quem encurtasse a distância, sentir o mau cheiro exaurido da pele daquele ser que um dia havia se ungido por indiferentes alfazemas, podendo ouvir se mais próximo chegasse do corpo faminto, o implorar do estomago por um pedaço de pão.
Comovido com a situação a qual aquele ser humano estaria sendo submetido, Ignácio prontificou-se em estender as mãos, acolhendo a gestante ao aconchego de sua morada onde fora abraçada por Kátia, a esposa de Ignácio, que se prontificou em cuidar de Gioconda como se fosse da família.
No dia seguinte, de corpo higienizado e roupas representáveis, Ignácio e Kátia colocavam a menina no automóvel, dirigindo-se para a casa do bom pastor; uma instituição sem fins lucrativos que tinha por objetivo, acolhimento aos flagelados.
Os dias dialogavam com as noites e Gioconda insatisfeita com as manifestações em seu ventre, insistia em dizer de não ter condições para cuidar do ser que estaria preste a vir ao mundo; pedindo para que seus protetores Ignácio e Kátia, se possível fosse, adotassem a criança assim que anunciasse o primeiro suspiro de vida.
Ocasionando dor ao coração pela rejeição, alegava Ignácio que a criança lhe tomaria tempo, no que o impediria de ajudar a outras pessoas que estivessem passando por mesma situação. Mas que poderia tentar passar essa responsabilidade para um casal de Doutores, que impossibilitados pela dadiva da multiplicação, procuravam por uma companhia para o primeiro filho, também adotado.
E assim foram dados os primeiros passos, aproximando o casal Samuel e Sirlene, da menina Gioconda que se encontrava no sétimo mês de gestação. Tudo ocorria dentro das normalidades, até o casal de Doutores descobrirem que a criança teria por genitor, um rapaz negro dançarino de Axé. Há esse desconforto haviam desfeito o combinado, alegando que, por já terem um filho de pele clara, não poderem adotar outra criança que não fizessem concordância à identidade da família que carregavam o genoma caucasiano.
Contribuindo para as indiferenças alegavam que, por serem pessoas influentes na região, não estariam preparados para serem questionados por inapropriados comentários que pudesse surgir por meio da elite social; optando os Doutores pela desistência da doação.
– Não quero essa criança! Não por ela ser filha de um homem negro! E sim por não ter condições de lhe dar vida digna! Pelo contrario, será mais uma que assim como eu, vivera dos favores de rua.
– Tenha calma minha criança! Penso que o momento não seja aconselhável para se deixar levar por transtornos emocionais! – Tentava Kátia acalentar a menina que atravessava por momento conturbado, onde a depressão anunciava seu envolvimento ao fragilizado corpo em gravidez prematura.
– Não fique assim Gioconda, Deus provirá de alguém que adote essa criança! Prometo para você, que se não tiver a quem se interesse por seu filho, não lhe deixarei ao relento!
Argumentava Ignácio segurando as mãos de Gioconda, enquanto Kátia, na tentativa de auxiliar o marido com palavras acolhedoras, acariciava os cabelos da gestante, dizendo.
– Confie em Deus, minha criança! Ele haverá de apontar a direção!
Todo um amparo direcionado para a pequena órfã, que se aproximando o dia de dar a luz, havia caído em profunda depressão. O corpo que a um piscar de olho triunfara entre os jurados em pose de rainha, encontrava-se em frangalhos dês do momento que seu príncipe partira, vindo a pá de cal atirada por Gení, segar a utopia de Gioconda.
Em continuo olhar em direção ao holocausto; assim como fora o corpo por varias vezes redesenhado pelos deuses, estagnavam-se os desejos. As luzes que outrora trouxera brio aos dourados cabelos de Gioconda haviam perdido a vontade de viver, vindo a finar-se sobre as fronhas dos travesseiros. Influência dos antibióticos utilizados para o novo tratamento ao qual a gestante fora submetida; elevando o fármaco em carrasco de sonhos de rainha.
No dia seguinte, Ignácio em sua incansável batalha em ajuda aos flagelados havia marcado um encontro naquele mesmo hospital com os Doutores Samuel e Sirlene, onde lhes seriam apresentados outra gestante que atravessava por problemas parecidos com os de Gioconda.
Chegando ao quarto de numero trinta e dois, Ignácio ficara surpreso ao descobrir que os pais doadores ali presente, já seriam conhecidos dos Doutores. O que havia facilitado os acertos para a doação, descobrindo com o desenrolar da conversa, que Felipe e Ana Clara seriam os pais do primeiro filho adotado por Samuel e Sirlene; podendo dizer que as crianças fossem irmãos de uma mesma barriga, afastando definitivamente as indiferenças na genealogia; acaso viesse surgir.
Enquanto Gioconda remoía suas dores pelo lado de cá do corredor hospitalar, pelo lado de lá, os dias de Ana Clara era atenciosamente acompanhado pelos Doutores Samuel e Sirlene, que não viam a hora de levarem o recém-nascido para a companhia do irmão.
Uma doação legal, onde por autorização judicial escrevia-se ao preto no branco, que os pais biológicos concordariam com os termos exigidos. Entre eles, o de não se envolverem com a criança após o nascimento, sendo de responsabilidade dos receptores, os cuidados com a criação do novo membro da família.
Assim sendo, após o parto concluído, seguindo com o combinado, a criança fora entregue ao casal de Doutores. Aos exames médicos mostrava-se uma criança saudável, suspeitando-se de certas indiferenças nas particularidades da pele, alegando os envolvidos no parto, que a simplicidade dos fatos não evoluiria para o além das expectativas normais de um recém-nascido. À primeira vista, uma criança de pele branca, tendo como indefinida as cores dos olhos, mas que futuramente poderia se refletir as identidades de Ana Clara e seu esposo.
Ao contrario de Ana Clara, Gioconda tivera um parto complicado; no que resultaria em doação regada por lágrimas fúnebres, já que, relutante ao incompreendido trocava-se um cale-se, por um clamor, correspondendo a irradiante luz; uma menina de pele clara, que pela procedência paterna imaginava-se nascer negra e cabelos crespos.
Dez dias depois.
– Não Estou entendendo Doutora Elizabete! Chegou a meu entendimento que o pai da filha de Gioconda seria negro e estou vendo que o bebê apesar do pouco tempo de vida, se apresenta de pele clara. – Perguntava Ignácio para a Doutora Elizabete, a ginecologista obstetra responsável pelo atendimento no hospital.
– É assim mesmo senhor Ignácio! Quem sabe, comece a escurecer a pele com os dias vindouros!
Um mês depois.
Assim como Ignácio havia prometido, unia-se a órfã a um casal de fazendeiro, que impossibilitado de terem filhos, enxergavam na recém-nascida, a benção que faltava para preencher o espaço vazio de suas vidas. Descendentes de europeus; carregavam na imagem os traços da saudosa Gioconda, não fazendo eles, distinção pela cor da pele da criança, já que, por longas conversas com Ignácio, sabiam antecipadamente a procedência do pai afro-brasileiro.
Os dias findavam e nada de anormal acontecia com a recém-nascida, mantendo-se a cor da pele clara, tornando visível a cor azul de seus olhos; questionando as pessoas que acompanhavam o desfecho da paródia, que o destino resolvera desmentir os boatos deferidos a respeito de Gioconda, constatando que antes mesmo dela se envolver com o dançarino de Axé, ela já se encontrava gravida de Isaias.
Por outra via, Dr. Samuel e Dra. Sirlene, intrigados com as novas referências a eles apresentados, não conseguiam entender o motivo da desigualdade na cor da pele dos irmãos; sabendo que, por serem filhos dos mesmos pais biológicos, a bebê não poderia nascer diferente.
Seguindo a carruagem da miscigenação, diferentemente do que era esperado; o bebê havia se tornado com o tempo em uma linda menina de pele negra, olhos castanhos e cabelo crespos. Supondo alguns curiosos, de o bebê ter sido trocada na maternidade. Fato descartado, sabendo que Samuel e Sirlene se revezavam dia e noite em vigília ao berçário.
Dez anos depois.
Infelizmente, os Doutores não tiveram como fugir aos questionamentos populares, que devido às incógnitas, os crucificavam pelo preconceito da cor da pele, tendo que se adequarem com a cilada do destino; certificando que os filhos adotados seriam de mesma hereditariedade; não conseguindo justificar a melanina, sabendo-se de antemão que o mesmo sangue que corria pelas veias do branco, corresponderia às vias do preto.